Jovem, negra, casada e de baixa escolaridade: as mulheres que mais sofrem violência em aéreas rurais no Brasil

Jovem, negra, casada e de baixa escolaridade: as mulheres que mais sofrem violência em aéreas rurais no Brasil
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Publicado em 13 de Dezembro de 2024.

Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz analisou 79.229 notificações de diferentes tipos de violência, sendo agressão física a principal

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado nesta sexta-feira (13) na Revista Brasileira de Epidemiologia, revelou que jovens negras, com idades entre 18 e 39 anos, casadas e de baixa escolaridade foram as principais vítimas de violência contra a mulher em contextos rurais entre 2011 e 2020.

+Mulheres negras são ainda mais afetadas pela desigualdade

A violência física foi a forma mais recorrente, representando 77,6% dos casos e ocorrendo, em sua maioria, dentro da própria residência, com os companheiros como principais agressores. O levantamento analisou 79.229 notificações registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) para mapear os casos no período.

Depois da violência física, as agressões psicológica e moral apareceram em 36,5% das ocorrências, seguidas pela violência sexual, com 6,2%. Entre as vítimas de violência física, 52,5% eram pretas e pardas, 33% brancas, 7,1% indígenas e 0,7% amarelas.

A maioria dos casos de violência física (54,7%) e psicológica (59,6%) envolveu mulheres casadas. Por outro lado, as solteiras foram as principais vítimas de violência sexual, com 48,5% dos registros. Nesse grupo, os agressores são, em sua maioria, desconhecidos (32,9%).

O estudo também apontou um aumento nas notificações entre 2011 e 2020, atribuído ao aprimoramento da vigilância epidemiológica. A partir de 2011, foi universalizado o procedimento de comunicação da violência no atendimento à vítima, incluindo serviços de saúde e assistência social.

Apesar disso, o levantamento destacou uma provável subnotificação, especialmente em casos de violência psicológica e sexual. Segundo o estudo, a dificuldade em reconhecer a violência psicológica e o medo de julgamento, culpa ou vergonha nas ocorrências de violência sexual contribuem para os registros insuficientes.

A violência física, por outro lado, é mais facilmente identificada devido às marcas deixadas no corpo e ao fato de muitas vítimas buscarem atendimento em unidades de saúde. +Mais de 50 mil mulheres são vítimas de violência por dia

Os dados para enfrentar a violência

O estudo foi conduzido pelas pesquisadoras Luciane Stochero e Liana Wernersbach. Em entrevista ao SBT News, Luciane destacou a importância de estudos epidemiológicos sobre a violência nesse contexto específico.

“Uma das conclusões da pesquisa é que as mulheres negras sofrem violência dentro de suas próprias residências, sendo o companheiro o principal agressor. Vale ressaltar que a idade das vítimas corresponde, em média, à idade de mães, o que significa que toda a família acaba sendo afetada pela violência”, explica Luciane.

A pesquisadora também ressaltou fatores que tornam a situação ainda mais grave. “O isolamento geográfico, a falta de transporte público e as longas distâncias até as áreas urbanas dificultam a reação dessas mulheres. A violência urbana tem seus desafios, assim como a violência no contexto rural. Cada situação precisa ser analisada dentro de seu próprio contexto”, conclui.

Os dados apresentados no estudo podem servir de base para movimentos sociais e diferentes esferas do poder público desenvolverem políticas voltadas ao combate à violência contra a mulher, especialmente no contexto rural.

Outro ponto importante identificado na pesquisa foi o aumento das notificações de casos de violência. Segundo Luciane Stochero, esse crescimento está diretamente relacionado aos esforços mais amplos de combate à violência contra mulheres nos últimos anos.

+8 em cada 10 pessoas assassinadas no Brasil são negras

Seis mulheres negras são mortas por dia

Um levantamento do Instituto Sou da Paz, divulgado em 2024, aponta que mulheres negras são as principais vítimas de homicídios por armas de fogo no Brasil. Segundo a pesquisa, realizada com dados do Ministério da Saúde entre 2012 e 2022, 68% das mulheres assassinadas com armas de fogo eram negras, em sua maioria jovens e adultas entre 20 e 39 anos.

Os números são alarmantes: o Brasil registra, em média, 2,2 mil assassinatos de mulheres com armas de fogo por ano, o equivalente a seis mortes diárias ou uma a cada quatro horas. O estudo também revela que a maior parte dos homicídios ocorre em via pública, especialmente entre mulheres negras, enquanto 39% dos casos acontecem dentro de casa.

A pesquisa destaca ainda a relação entre a violência armada e fatores como consumo de álcool. Em 35% dos casos de agressão não letal ocorridos dentro do lar, há suspeita de que o agressor estava alcoolizado. Além disso, 43% das agressões com arma de fogo foram cometidas por pessoas próximas à vítima, como parceiros íntimos, amigos ou familiares.

O estudo identificou desigualdades regionais: enquanto o Norte e Nordeste registraram queda nas mortes de mulheres por armas de fogo entre 2021 e 2022, o Sul, Centro-Oeste e Sudeste apresentaram aumento.

Leandro Régys

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